Relações destrutivas, vício em amor e o mito do “cara legal” na 2ª temporada de “Love”

Assim como em quase todo tipo de relação, o sentimento ao acompanhar a história de Mickey e Gus é uma montanha-russa: gostamos e nos identificamos com eles, mas muitas vezes não conseguimos entender muito bem por que eles fazem o que fazem. Esse vai-e-vem torna a série “Love”, da Netflix, uma comédia cativante: todos já fomos ou tivemos um Gus e uma Mickey em nossas vidas em algum momento. Mas a produção levanta ainda outras questões interessantes: a dependência do relacionamento romântico, o mito do “cara legal” e a busca pelo autoconhecimento.

Crítica da 2ª temporada de Love

Pouco mais de um ano após a primeira temporada, a história ganhou continuação e os novos episódios mostram o desenrolar de um relacionamento conturbado e cheio de buracos vivido pelo casal protagonista no início da trama. Dessa vez, no entanto, passadas as aventuras dos primeiros encontros, eles começam a experimentar um namoro de verdade – que não é fácil para a personalidade explosiva e instável de Mickey versus o jeito superprotetor e controlador de Gus.

O “cara legal”

O roteirista que assina a série “Love”, Judd Apatow, é responsável também por várias outras comédias (como “Ligeiramente Grávidos”) que trazem uma construção parecida de personagem: um cara por volta dos 30, não muito bem sucedido, fora dos padrões, mas tão “gente boa” que desperta a paixão da garota com quem divide o protagonismo.

Em “Love”, não é diferente: o Gus é o cara legal que ao tentar proteger Mickey e ser rechaçado por ela em diversos momentos faz questão de ressaltar que ela se acostumou a ser maltratada em relações e, por isso, agora, não consegue aceitar o “carinho” dele. Apesar de, no geral, não exibir caraterísticas pessoais tão interessantes e nem uma personalidade tão marcante quanto a de outras personagens da série, ele conquista sem fazer muito esforço.

Esse conflito dá o tom da série: todo o contexto parece apontar para Gus como exemplo de namorado carinhoso, fiel, apaixonado e preocupado – e ainda assim Mickey não consegue aceita-lo muito bem. A partir daí, a série também levanta questionamentos sobre a necessidade de estar em um relacionamento, custe o que custar – inclusive aceitar todo o tipo de apoio e incentivo, mesmo quando não queremos, porque esse parece o caminho correto.

Dependência amorosa

Depois de uma série de experiências frustradas e destrutivas, Mickey começa a frequentar reuniões de viciados em sexo e amor, que funciona mais ou menos como o Alcoólicos Anônimos. O objetivo do grupo é incentivar uns aos outros a não depender de envolvimentos amorosos para ser feliz ou acabar se relacionando de forma doentia com outras pessoas.

Assim, Mickey vive em um constante dilema: ela constata que precisa ficar sozinha por um tempo, mas ao mesmo tempo vive um relacionamento sufocante com Gus do qual tem dificuldade de abrir mão, o que a leva a ter atitudes agressivas com o companheiro que – “coitado” – é uma pessoa muito legal. Em meio a isso, nos aprofundamos também nas relações familiares de Mickey e em alguns de seus amores e hábitos antigos, que explicam muito do que ela vive nessa temporada da série.

Apesar de se apoiar em alguns arquétipos e em um conceito de amor romântico que torna essa temporada mais previsível, “Love” também levanta boas questões sobre a relação que temos com nossos próprios sentimentos e como comportamentos autodestrutivos se “disfarçam” e se estabelecem – inclusive quando estão escondidos sob padrões que parecem ser os corretos.

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